quinta-feira, 3 de junho de 2010

Carta Geológica de Portugal

O território continental compreende três unidades fundamentais, distintas, quer do ponto de vista cronológico, quer da estrutura dos terrenos. Essas unidades morfoestruturais são:
- Maciço Hespérico
- Orla Mesocenozóica Ocidental ou Lusitana e Orla Meridional ou Algarvia
- Bacia Cenozóica do Tejo e do Sado



UNIDADES ESTRUTURAIS DO TERRITÓRIO PORTUGUÊS

Maciço Hespérico
Também designado ibérico, maciço antigo ou maciço hercínico da meseta ibérica, caracteriza-se por ser uma região que, desde o Paleozóico, está emersa e desde então sujeita à erosão.





É formado por terrenos antigos, anteriores à deriva continental meso-cenozóica. São conhecidas rochas metamórficas, sedimentares e magmáticas com idades compreendidas entre o Pré-Câmbrico e o final do Paleozóico. Este maciço corresponde ao troço ibérico da grande cadeia hercínica da Europa.

As ilhas Berlengas e Farilhões pertencem a este maciço e representam afloramentos deste substrato na plataforma continental. Uma porção da parte imersa do maciço hespérico está coberta pelas formações cenozóicas da bacia Tejo-Sado.

A superfície da meseta foi, posteriormente, deformada por falhas que originaram compartimentos elevados do tipo horst, como o do conjunto Lousã-Estrela.




As áreas deprimidas da meseta correspondem às bacias cenozóicas. É o caso das bacias do Tejo e do Sado em Portugal e do Ebro e do Guadalquivir na Espanha.

A cadeia hercínica na Península Ibérica permite, com base nas suas características, a definição de grandes unidades paleogeográficas e tectónicas, alongadas e paralelas à estrutura da cadeia.

Actualmente e com essa base, consideram-se as seguintes unidades:

zona cantábrica
zona asturo-leonesa
zona galaico-transmontana
zona centro-ibérica
zona Ossa-Morena
zona sul-portuguesa
Destas zonas, apenas as quatro últimas estão bem representadas no território continental.





Zona galaico-transmontana


Corresponde a esta zona uma grande parte do maciço hespérico, que ocupa a metade norte de Portugal, a totalidade da Galiza, parte de Castela e Leão e a província de Cáceres. A característica mais destacável desta zona é a abundância de granitos e outras rochas plutónicas. As datações de idade absoluta destes granitos indicam que a sua formação aconteceu há cerca de 280 M.a. Quanto ao metamorfismo, as formações pré-câmbricas mais antigas experimentaram um primeiro metamorfismo de grau elevado, ainda no Pré-Câmbrico, e um segundo durante a orogenia hercínica, de grau mais baixo.

Zona centro-ibérica (ZCI)

A norte, é cavalgada pela formação galaico-transmontana e, a sudoeste e sul, contacta com a zona de Ossa-Morena através de outro cavalgamento, o de Ferreira do Zêzere, e um prolongamento para norte e sudoeste. Sobressai uma grande unidade estratigráfica, o complexo xisto grauváquico, anterior ao Câmbrico, constituído por uma série de xistos e grauvaques - flysch- com níveis esporádicos de conglomerados e calcários.

O Ordovícico aparece transgressivo e discordante sobre aquele complexo,presentando espessas bancadas de quartzitos, expressas em relevos com a orientação NW-SE, tais como os do Buçaco, Vila Velha de Ródão, Valongo, etc. Nesta zona aparecem xistos muito fossilíferos, com trilobites e braquiópodes do Ordovícico, xistos negros e ftanitos com graptólitos do Silúrico e xistos, arenitos e quartzitos do Devónico inferior.

Há ainda a considerar a existência do Carbónico continental na chamada bacia carbonífera dúrico-beirã, onde se situavam as explorações de antracite de São Pedro da Cova e Pejão, próximo do Porto. São do Ordovícico os jazigos de ferro de Moncorvo e do Marão






Zona de Ossa-Morena (ZOM)


No limite norte, os terrenos desta zona cavalgam os da zona centro--ibérica e estendem-se para sul, sendo limitados no território português pelo cavalgamento de Ferreira do Alentejo-Ficalho, continuando-se por Espanha até Cazala da Serra e vale do Guadalquivir.

Abundam os materiais pré-câmbricos e câmbricos que apresentam materiais vulcânicos e plutónicos. A idade destas rochas é da ordem dos 460 a 500 M.a., isto é, do Ordovícico. O Pré-Câmbrico está representado ao longo de uma faixa descontínua, entre Espinho e Campo Maior, passando por Coimbra, Tomar e Abrantes, e é formado por rochas gneisse-magmáticas e outras metamórficas, mais antigas, e por uma série superior flyschóide, designada por série negra.

O Câmbrico, bem datado, assenta em discordância sobre o Pré-Câmbrico. É notável o Câmbrico de Vila Boim pela sua fauna de trilobites. São também considerados câmbricos os mármores de Estremoz, Abrantes, Ficalho e Viana do Alentejo. O Ordovícico está mal representado, apresentando grandes lacunas.


Zona sul-portuguesa (ZSP)


Corresponde à zona subocidental do maciço hespérico e predominam séries rítmicas areno-pelíticas, nomeadamente xistos e grauvaques - flysch.


Em Portugal não existem intrusões plutónicas, mas existem intercalações de lavas e materiais piroclásticos, formando séries vulcano-sedimentares espessas. O metamorfismo, quando existe, é de grau muito baixo. O Devónico tem fácies marinho, situa-se na parte norte da zona e está representado por xistos, grauvaques, quartzitos e, por vezes, calcários dolomíticos.

O Carbónico marinho é constituído, no essencial, por séries rítmicas alternantes de xistos e grauvaques -flysch.


Com as formações vulcano-sedimentares relacionam-se os jazigos de pirites, que se dispõem na forma de franjas. As mais importantes são as de Caveira-Lousal (faixa piritosa do Alentejo), que se estende para Espanha (Rio Tinto, Huelva). Estes materiais foram deformados durante o Carbónico superior, originando-se estruturas dobradas que podem constituir cavalgamentos. A pequena bacia carbonífera de Santa Susana, próximo de Alcácer do Sal, onde se extraiu hulha, é discordante sobre as formações anteriores e portanto posterior àquelas formações. Uma fase tectónica afectou finalmente todo o conjunto, incluindo a série continental.


Orlas mesocenozóicas
Quando da subsidência de extensas fossas precursoras da fragmentação da Pangeia e abertura posterior do oceano Atlântico, formaram-se os terrenos que constituem as orlas mesocenozóicas. São porções da crosta jovem acrescentada à crosta antiga e às margens continentais que então se formaram.

Orla ocidental ou lusitana
A série mesozóica, que é discordante relativamente ao soco constituído por matéria mais antiga, inicia-se por uma série continental detrítica com conglomerados, arenitos e argilas, regra geral de cor vermelha, correspondente ao Triássico superior.

A esta série sucede-se uma série lagunar com argilas vermelhas, margas, gesso e sal-gema. Estas constituem as explorações de gesso de Soure, Sesimbra e Óbidos e as de sal-gema de Rio Maior. Nesta altura ocorreu uma transgressão originando uma série calcária fossilífera com amonites e alguns braquiópodes. Esta série calcária está representada nos maciços calcários de Sicó, Alvaiázere, Aire, Candeeiros, Arrábida, etc.




No Jurássico superior, o mar é regressivo, como se pode observar pelos depósitos de fácies marinho cada vez menos profundo, com calcários recifais, margas lagunares com leitos de carvão, etc. Apresenta também fácies continentais com séries de conglomerados, arenitos e argilas. O Cretácico inferior é ainda regressivo, mantendo-se a sedimentação continental do mesmo tipo que a anterior. Seguiu-se uma transgressão em que se constituíram depósitos calcários. O Cretácico superior está reduzido à região de Aveiro-Coimbra. É nesta época que se formam os maciços eruptivos de Sintra, Sines e Monchique, a que se sucederam fenómenos de vulcanismo testemunhados pelo denominado complexo vulcânico de Lisboa-Nazaré. Neste complexo encontram-se materiais extrusivos como lavas, piroclastos, filões, diques, chaminés e soleiras vulcânicas. O Miocénio marinho é caracterizado por transgressões e regressões, encontrando-se depósitos muito fossilíferos. No Quaternário, no sector situado a norte do Tejo, existem grandes fracturas, possivelmente hercínicas, e dobras amplas relacionadas com fenómenos de diapirismo. A serra da Arrábida, embora uma cadeia pequena e incompleta, é o acidente orogénico alpino mais importante do ocidente peninsular. Em Espanha são cadeias alpinas as Béticas e os Pirenéus.


Têm-se encontrado provas de que estas deformações se têm continuado e continuam a formar nos tempos actuais.


Orla meridional ou algarvia


A formação desta orla iniciou-se ao mesmo tempo que a orla ocidental, no Triássico superior, com a deposição de uma série continental, denominada grés de Silves. Ao grés de Silves, seguem-se calcários dolomíticos, margas, argilas e evaporitos. Esta série é sobreposta por calcários do Cretácico. O Miocénico marinho está confinado à faixa litoral, sendo constituído por calcários impuros, detríticos e margosos, visíveis nas arribas entre Lagos e Albufeira. O Pliocénico tem fácies continental e é constituído por depósitos detríticos de cor vermelho-alaranjada. O Quaternário tem fácies litoral e é constituído por depósitos de praias levantadas com seixos rolados.



O vulcanismo básico é um acidente generalizado a toda a orla meridional. São comuns filões camadas, diques e chaminés. Recentemente foram encontradas brechas vulcânicas, tufos e cineritos na região do Alte, Salir, Moncarapacho e Praia da Luz. Algumas destas formações intersectam as formações cretácicas pelo que o vulcanismo desta orla deve ser mais ou menos contemporâneo do complexo vulcânico Lisboa-Nazaré.

Bacia Cenozóica do Tejo-Sado
Embora muitas vezes consideradas em separado, as bacias do Tejo e do Sado constituem uma unidade estrutural com as mesmas características litológicas e estruturais. Há duas bacias hidrológicas, mas o que nos interessa é o significado geológico destes terrenos. A individualização desta bacia teve início no Terciário com: - o afundamento da região, entre falhas; -enchimento posterior por materiais oriundos de zonas periféricas. A parte inferior da série sedimentar desta bacia é francamente continental, com formações detríticas grosseiras na base e intercalações de calcários e argilitos de neoformação. A subsidência da bacia é fenómeno marcante e pensa-se que ainda continua na actualidade, embora a sedimentação venha, desde o princípio, a preencher a área deprimida. O Miocénico continental, fossilífero (ossos de vertebrados, gastropódes límnicos, impressões vegetais, etc.), é constituído por arenitos que apresentam intercalações conglomeráticas e formações argilosas.


Foi no Miocénico que ocorreram algumas acções transgressivas do mar que, mais ou menos, penetraram na bacia. Ao Miocénico continental seguiu-se o Pliocénico, também continental, com sedimentação fluvial detrítica, arenitos, conglomerados e argilitos. O Quaternário está bem representado pelos diversos níveis de terraços fluviais ao longo dos leitos do Tejo e do Sado e alguns dos seus afluentes.


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